terça-feira, 7 de junho de 2011

Sou o teu lugar

Só te peço mais uma vez…

Só quero molhar os meus lábios nos teus outra vez, profanar a tua beleza, tê-la na ilusão de que é minha, outra vez, uma última.

Tenho um desejo que ferve, me consome e ilumina. Sou a luz ultravioleta que escolhi ser, tu podes fugir mas não te podes esconder, eu encontro-te em qualquer lugar de mim.

Falo de ti tantas vezes, em silêncio.

Tens múltiplas formas porque te projecto em tudo o que vejo em meu redor. Tu és um pedaço de espigas de milho, de flores silvestres, do granizo, da alfazema amiga, da sombra da janela, das trinchas de luz na parede, som das vozes ao meu lado, do retrato na parede, de um disco que diz “Never Never Slow Down”. Tens em todas as formas uma característica delas. E o vento sopra-me na cara que abro para o receber…

Protejo-te de um deserto avassalador que te incomoda, seguro-te a mão toda a viagem e tu, absorta, fixas um ponto distante… não estás sequer aqui, naquele momento.

Pensas em medos como se fossem a factura de um amor assim.

Nem sequer sonhas a ressaca que é ter tudo para depois ter nada, como se o medo alguma vez impedisse de dar um passo na vertigem do abismo. Impele-nos o coração e o peito cheio de ar em direcção um do outro.

Outra vez, ou uma vez, fomos estrangeiros e falamos uma língua que não era a nossa.

Deram connosco a rir. Sim, é verdade que nos rimos. E sempre que nos rimos, baptizamo-nos outra e outra vez…

Estamos reféns deste instante. Fechamos as saídas e abrimos todas as entradas. Não queremos menos do que isto.

Hoje sou teu, quero marcar uma presença… deixar uma marca. Não quero ser mais o ausente, o estranho. Hoje quero diluir as minhas águas para que subam as tuas marés e tragam os ventos de norte que pedimos em tempos. Ai pudesse eu ver-te, olhar os teus olhos e entrar por eles até à tua casa, aquela onde guardas o teu tesouro, pois… o teu Eu.

Quero-te a ferver. Em lume. A arder, em fogo, em chamas…

Viaja … vem… incendeia-te comigo, leva-me para longe. Vamos sair daqui, deste lugar, desta penumbra. Vamos onde os dados não estejam viciados, a um lugar que eu sei.

Anda comigo.

Vamos correr agora, façamos amor… vamos dormir quando houver tempo. Vamos entrelaçar os corpos extasiados, marcados pelo suor de um amor sem freio.

Hoje há tempo e o mundo pára se quiseres como num concurso. Não há perguntas e não há prémio. Não somos vidas completas até ouvir o coração ressoar um bip, até os relógios darem mil voltas, nem tu sabes o quanto eu te quero. O mesmo que me queres a mim. A balança joga a nosso favor. Mas leva-a, não a quero ver mais. Deita-a fora se quiseres que as coisas aqui não se medem… tu sabes que sempre nos sentimos mas nunca nos medimos, nunca nos pesámos, amor.

Porque não te juntas a mim? Agora. Porque és tu bonita? Porque provas de mim e te sacias sem saber? Porque eu sou um sítio que tu gostas de estar. Sou o teu lugar. Daqui em diante, tu conheces a expressão… a expressão que faço quando te digo de forma engraçada quase a rir, “sou o teu lugar”: Nós não vivemos em círculos… tu coras.

Espera. Eu seguro no meu braço este abraço que tenho como oferta antes de morrer. Morremos cedo e nem tenho a sensação que nos faça mal… é como se estivéssemos habituados e ninguém além de nós sabe.

Olha através de mim. Finalmente sabes, eu sou o teu lugar. Mais difícil é dizer que tu és a minha Vida. E ainda assim, sim, És. Tu sabes.

Queria rir. Vou fazer uma mentira.

Vou pintar de verde o céu, vou espreguiçar-me atrás de ti, vou fazer uma vénia ao Sol que abre pontes entre os vales onde me costumas encontrar em voos nocturnos rasantes…

Queria lançar-te um riso. Ver-te a expelir aquele sorriso de menina que me trespassa e me faz estremecer o corpo como se tivesse um furacão suicida aqui dentro.

Procuro-te incessantemente no azul, se calhar já não estás.

Então se não estás, não quero saber, levo galões de gasolina para por fogo aos locais onde já não estás, porque já não me interessam.

Agora a minha garantia.

A certeza, a única que tenho.

Vou apagar tudo, vou riscar tudo o que escrevi, vou respirar. Vou dar três passos atrás.

Hoje, menina, é o primeiro dia desde que renasci e tu o meu primeiro ar, o meu primeiro encontro. A minha harmonia, o passeio que sempre jurei que faria contigo na margem do mar que navegamos, de vento em popa num único destino: a linha distante do horizonte.

Há mais… muito mais.

Somos livres como o vento, somos sementes na imensidão do espaço, que se cruzaram e que procriarão sementes seguintes, somos dançantes, bailarinos, andantes… Onde antes não havia nada, nós fomos os primeiros. Tem sido sempre assim. Duas sementes que se mantiveram em suspenso uma vida inteira … na mesma gama de cores, de movimentos, de sons e melodias, ao sabor da brisa, do momento, numa feliz coincidência. Consistência. Um feito raríssimo e no entanto ninguém se apercebe destas curiosidades.

Há pincéis nas minhas mãos, tens tinta mágica na tua cara, escorre-te para o peito, um atrevido verde que desce na linha do peito, em direcção ao umbigo… destemido verde. Palpita-lhe o coração, ele sente o seu pulsar, está firme na sua missão, prossegue em ti sem hesitações… vai deixar-te uma marca. Sou eu, porque também és o meu lugar.

3 comentários:

Ana Paula Oliveira disse...

Um belo texto metafórico e sinestésico onde as palavras jogam jogos de amor e paixão e fazem despertar os sentidos mais adormecidos.

Anónimo disse...

Não me canso de ler este texto.. fantástico, intenso,bonito e sentido...

Unknown disse...

Wow! Amazing heart, emotions, words within you.